Resumo

Desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), tanto no Brasil como no resto do mundo, as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) tornaram-se o eixo da dinâmica social, econômica, laboral e educacional. Ao imaginário do cidadão médio que se utiliza das TICs, representado por adolescentes e jovens conectados e versados nos dispositivos e nas plataformas digitais, adicionaram-se os professores pouco capacitados no uso dessas mesmas tecnologias, a mãe exausta acompanhando as tarefas online de suas crianças, os idosos aprendendo a fazer videochamadas para conversar com seus netos e centenas de milhares de meninas e meninos tentando concentrar na frente de uma minúscula tela para assistir às aulas. Assim, um vírus revelou grosseiramente a falácia de um “mundo conectado” proclamado a partir do paradigma da Sociedade da Informação e do Conhecimento. O objetivo deste ensaio é analisar a lacuna digital como vértice das desigualdades estruturais que compõem a vida de milhares de brasileiros. Nosso ponto de partida é reconhecer o acesso às TICs como elemento fundamental para que os cidadãos acessem, consultem, compartilhem e produzam informação e conhecimento em seu próprio benefício, das comunidades e da sociedade em geral. Contudo, há uma série de ausências, tanto em termos de infraestrutura quanto de conhecimentos e habilidades, derivadas de outras condições da desigualdade social, que não permitem que todos os cidadãos se beneficiem delas. Essas deficiências são expressas pela exclusão digital.

Since the beginning of the pandemic caused by the new coronavirus (COVID-19), both in Brazil and in the rest of the world, Information and Communication Technologies (ICTs) have become the axis of social, economic, labor and educational dynamics. To the imagination of the average citizen who uses ICTs, represented by adolescents and young people connected and versed in digital devices and platforms, there were added teachers with little training in the use of these same technologies, the exhausted mother following their children's online tasks, the elderly learning to make video calls to talk to their grandchildren and hundreds of thousands of girls and boys trying to concentrate in front of a tiny screen to watch classes. Thus, a virus grossly revealed the fallacy of a “connected world” proclaimed from the paradigm of the Information and Knowledge Society. The aim of this essay is to analyze the digital gap as the vertex of the structural inequalities that make up the lives of thousands of Brazilians. Our starting point is to recognize access to ICTs as a fundamental element for citizens to access, consult, share and produce information and knowledge for their own benefit, communities and society in general. However, there is a series of absences, both in terms of infrastructure and in terms of knowledge and skills, derived from other conditions of social inequality, which do not allow all citizens to benefit from them. These deficiencies are expressed by the digital divide.